Querida Alma,
escrevo-te de onde não sei definir ao certo a velocidade com que os ponteiros correm, nem a cor do sangue morno que banha meu rosto quando os ventos acariciam minhas pálpebras - quem dirá o gosto de um beijo submerso na escória dos lábios tensionados pela audácia. Não vou dizer-te que sinto tua falta, pois seria infeliz enrustindo-me em lamentações lógicas enquanto a razão nem mesmo se arrisca a me fincar a seus portos altivos. Sinto - e sinto em cada vasto gesto, que sua presença (ainda que ausente) nunca me foi tão forte, jorrando por todos os poros da fronte que encara seu destino com os olhos cerrados, entitulando o romance que se espreguiça sobre sua tragédia. Alma, escrevo-te indagando seu escondeirijo, procurando seu paradeiro em meio à balbúrdia interminável dos meus sentimentos. Em vão, vasculhei o promíscuo seio do desejo, o amargo timbre da cevada e a ecoante voz do artista fazendo-se virgem nas notas doces da guitarra. Em vão, alma, procuro-te e perco-te.
Seu R.
2 comentários:
eu fico boba com as coisas que você escreve, re
juro, me emocionam
beijos, Gi
penso não precisar me circundar em muitas palavras após ter lido este texto ao som de "The End" do Doors, sem sequer poder entender ou imaginar qual seria a sua origem, ou porque ele começou a tocar assim... de repente!
Talvez eu não precise procurar explicações... o que me interessa é que aquele som começou a tocar sistematicamente no momento em que eu comecei a ler este texto que deve ter tocado bem próximo da alma, mesmo. ou qualquer local bonito e ilusório bem próximo disso.... que vai bem mais além da minha ingênua compreensão.
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